Doentia Fixação

Feito em 06 de agosto de 2011...


Ela se olha no espelho, o que tanto a deixa estranha?
Isso seria uma fixação? Não, não.
O espelho mostra sua imperfeição.
Suas orelhas não condizem com seu rosto,
Seus dedos são tão deformados.
Tudo nela é assimétrico.
Um resultado de algo mau feito.
Ela olha para suas unhas. Qual seria sua solução?
Busca um alicate. Isso poderia nascer novamente?
Arranca unha por unha. Vê seu sangue, sente a dor.
Busca por sua perfeição. Ela não tem mais unhas.
Elas nascerão de novo um dia.
Sua barriga. O que ela tem de errado?
Seus cabelos não condizem com sua personalidade.
Ela pega uma tesoura. Corta seus cabelos.
Busca por sua perfeição. Ela não tem mais cabelos.
Eles nascerão de novo um dia.
Ela sai. Em busca de olhares.
Ninguém a olha. Não é perfeita.
Volta para casa. O que tem que fazer?
É sua barriga? São suas sobrancelhas!
Pega uma pinça. Arranca suas sobrancelhas.
Busca por sua perfeição. Ela não tem mais sobrancelhas.
Elas nascerão de novo um dia.
Algo está errado. É sua barriga?
Seus olhos não são perfeitos.
Seus braços, suas pernas. Foi mal feita.
Por que não pode ser o padrão.
Por que não pode ser perfeita?
É seu nariz o problema? É sua barriga?
Acha que é seu pé o problema.
O espelho mostra que é seu pé.
Pega uma faca. Perfura seu pé.
Seu sangue não para. Ela estanca com uma fralda.
Não é esse seu problema. Mas o que o espelho não mostra?
São suas costas? É sua barriga?
O que fez para não ser perfeita.
Ela não agüenta mais ficar de pé, a se olhar,
Em um espelho sempre tão afim,
De com sua imagem acabar.
É sua mão? É seu sangue que não é tão vermelho?
O que ela fez de errado?
É sua barriga. Será mesmo sua barriga?
Busca uma faca maior na cozinha.
Olha bem certo onde quer mudar.
O espelho insiste em querer mostrar.
Então é isso. Pode ser perfeita.
Sua barriga. Como não pensou nisso antes.
Abre sua barriga. Tudo de dentro sai.
Inclusive seu sangue quase vermelho.
 Cai sobre o espelho. O espelho a mata.
Seu sangue não para de se esparramar por sobre o quarto.
Sua mãe não para de gritar perante o corpo.
Ela morre feliz. Agora é perfeita.
A perfeição de sua cabeça foi cumprida.
Ela é perfeita. Sua face fria morre feliz.
Seu sangue corre, mas ela é perfeita.
Tudo enfim agora é perfeito.
Os seus desenhos do primário,
O seu texto mal acabado de história,
Seu último boletim cheio de notas vermelhas.
Sua última risada. Seu último momento.
Sua barriga a deixava imperfeita.
Sua barriga crescia. Pois um segredo ela guardava.
Um filho de alguém agora imperfeito.
Que nem chegou a nascer dela. Tão perfeita.

By: AyKe.AeRa.

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