Madame Simoa

Feito em 28 de julho de 2011...


Naquelas tardes frias em que ouvia músicas assustadoras,
Madame Simoa lembrava e pensava no seu futuro.
Ela seria apenas uma velha já aborrecida,
Ou um passado que tanto clamou pela morte.
A contraditória vida que lhe dava sinais,
Que logo chegaria sua hora.
Seu passado não a comove,
Frias tardes trancadas sobre quatro paredes,
Onde além de pensar e agir, ela já pensava em seu fim.
Morreria cedo. Sempre foi o combinado com Deus.
Agora é Madame Simoa do fim da Rua Treze.
A senhora assustadora quem sabe depressiva.
A velha de preto. A velha bruxa comedora de gatos.
Ela fica lá. Na espera de sua morte.
Uma velha jogada a sorte.
Nunca teve ninguém. Viveu só. Pobre velha?
Não. Sempre quis ser assim. Escolheu seu destino.
A velha dos quarenta gatos.
A velha do final da Rua Treze. Pobre velha?
Naquelas tardes frias e passadas.
Como o tempo passa, não é mesmo Simoa?
Hoje uma velha condenada,
Ontem uma jovem de escolhas.
O que você tanto espera no seu sofá assistindo sua vida?
Parada imóvel, lembranças frias. Velha comovida.
Simoa a velha bruxa Treze, de rua noventa e dois.
Como são boas aquelas lembranças.
Simoa, a velha noventa e dois, de Rua Treze.
Ingratidão do fim da rua.
A hora não chega, como partir?
Simoa. Chegou sua hora.
Ela levanta do sofá. Busca a corda do seu varal lá de fora.
Prepara o banheiro para seu ato final.
Quem bate lá fora?
Chegou Cristo. Insistem em lhe trazer a comunhão.
Ela atende. Sempre foi educada com muito rigor na infância.
Servidora de Cristo ela não nega.
Ela reza. Ela recebe Cristo. Ela está pronta agora.
Lembra-se de seu café de todas as noites,
Antes mesmo de cristo ir embora.
A casa está vazia novamente.
Apenas ela e seus inúmeros gatos.
Apenas ela e um fim de Rua Treze.
Prepara seu café. Preto e forte.
Toma seu remédio. Assiste a sua novela.
Vai para o quarto. Troca de roupa e arruma seus cabelos.
Chegou a hora. Ela vai para o banheiro.
Já tem tudo pensado. Seus gatos enlouquecem do lado de fora.
Ela olha a corda. Já tinha passado por isso algumas vezes.
Mas agora ela teria a Cristo. Ela estava pronta.
Olha para a luz do banheiro.
Olha para seu rosto no espelho.
Lembra-se de suas tardes frias do passado.
Ela olha para o nada conformada.
Ela sabe aonde chegou. O que fez. Sua rua.
Ela puxa o banco. A corda passa por sua cabeça.
A corda está em seu pescoço. A velha comedora de gatos.
A velha bruxa da Rua Treze. A senhora de saúde frágil.
Ela pula para o ar do banheiro.
Ela voa pelo espaço e seus olhos saltam para fora.
Antes de partir apenas vê o fogo por sobre seus pés.
E uma última lágrima a faz dar um último suspiro.
Quando acharão Simoa presa em uma corda?
Seu sangue cai por sobre terra.
Simoa morre. Madame Simoa sempre desejou seu fim.
Simoa noventa e tantos. Lá fora os gatos gritam.

By: AyKe.AeRa.

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