Meu Manjericão, Meu ódio, Meu amor, Meu luto.

Feito em 18 de julho de 2011...


Você sabe onde anda sua alma?
Você viu a merda pela manhã?
Onde está esse sol?
Eu não fui. Eu não vou. Onde os corvos pousaram?
Sumam daí míseros corvos.
Esse corpo não é para vocês.
Esse corpo é meu.
Melhor ficar aqui na janela,
Antes que suma meu corpo do quintal.
Ele está ali enterrado. No fundo do quintal.
Saiam daí corvos. Medida drástica e agora.

Então agora vou plantar um canteiro,
De manjericão, aqui e no mundo inteiro.
Cubra meu cadáver manjericão.
Não deixe esses corvos levarem meu corpo, isso não.
Ele deve estar em um estado deprimente.
Não ligue meu canterinho, tudo vai mudar.
Esses corvos não irão mais vir aqui,
Para lhe incomodar.
Eu sei que isso é fato.
Mas isso não me assusta mais.
Ter um cadáver no meu quintal.

O ódio foi tão grande.
Não pude me controlar. Agora olhe pela janela.
O manjericão já vai brotar.
Como os dias passam tão ligeiros.
Ontem mesmo você me assustava.
Hoje meu ódio é passageiro.
Só espero que os vizinhos não olhem
Que eles não venham aqui me encher.
Enchem-me com as mesmas palavras fúteis de sempre.
Quem fugiu com quem, quem matou quem,
Quem e mais quem. O ódio voltou. Tenho que me controlar.

Oh como amava você. Mas você veio com a mesma conversa.
Eu não pude me controlar, o impulso foi mais forte.
Eu lhe matei. Mas foi pura sorte.
Oh como lhe amava, por isso fiz esse belo canteiro.
Com os mais belos manjericões.
Bateram na porta. Vou abrir. Saiam daí seus corvos imundos.
“Você tem um pouco de manjericão?”
“Não tenho, mas como vai à vida?”
“Mas eu vi da minha janela um belo canteiro!”,
“Não se intrometa em minha vida! Fora daqui!”
Entrei. Voltei para a janela. Oh mais como te amava.

Você era tão feliz, isso se via em seu rosto.
Ficarei de luto eterno. Pobre cadáver.
Sem chance de defesa, você foi importante para mim.
Hoje é um cadáver. Saiam daí corvos!!!
Vou regar meu canteiro de manjericão.
Olhe como está vindo ligeiro.
Como cresce para os lados sem direção.
Aqui da janela eu choro.
Onde estaria se não fosse sua morte?
Esses vizinhos intrometidos.
Estou de luto nesta janela. Um luto eterno.

Agora entendo aquele dia. Você não podia me falar.
Será que fiquei um pouco louco?
Meu Deus, como pude te matar?
Vou destruir esse canteiro. Não quero mais esse manjericão.
“Oi vizinha, quer manjericão!”
“Não pode levar tudo, você não queria mesmo?”
Vou tomar um banho, preciso me conformar.
Você se foi para sempre. Pobre camundongo.
Sua gaiola será sempre a mesma.
Não sabia que não tava com fome.
Desculpe meu camundongo. Desculpe-me.

By: AyKe.AeRa.

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