O Frio Da Primavera Cristã

Feito em 01 de novembro de 2011...

Naqueles frios túmulos eles deitam.
Não por que querem ficar lá imóveis ou deitados.
Por que esperam aquele dia do juízo,
Onde serão redimidos ou condenados.
A glória da noite do doce cemitério.
O beijo do escuro que cega o vivo.
O silêncio mortal dos gritos dos lobos.
Eles podem e não podem. Terra fria de solidão.
O abismo do pecado, alucinógeno caixão.
O desprezo pela vida. O túmulo é uma prisão.
O túmulo. Frio. Vazio. Solitário. Imóvel.
O que se move são as baratas e os ratos.
E alguns dos vermes já citados em outras ocasiões.
Paixão do vermelho. Um Cristo da noite.
Um delírio ligeiro, uma lua que trouxe,
A neblina já densa. O cheiro de orvalho.
O frio é intenso. Os corpos imóveis no caos.
Endereçados no fim. Numerados por ordem.
Nascidos e mortos. A noite é nossa.
O grito de desespero. Alguma sendo morta.
Um crime na madrugada. Intriga o silêncio.
O barulho da noite, o caos da madrugada.
Ela se jogou da sacada. Uma a mais na noite.
Um cadáver, cheio de cor e vida,
Une-se as forças do frio do cemitério.
O frio e a madrugada.  A tortura do inferno.
Senhor da morte como pode?
Posso ser à noite. Posso andar na noite.
Os remédios que me drogam reservam uma cova,
Não tão rasa nem tão funda,
Uma fria cova e imunda.
Posso ser assim desqualificado, sem valor,
O doce da noite embalado com a dor,
Ouvindo um casamento do desprezo e a solidão,
Alguns me dizendo fique, outros que me empurram e dizem vá.
Alguns me puxando pelos cabelos, outros me sufocando para voltar.
Queria ter uma sacada. E poder cair sem pensar.
Poder ter minha queda, e ser enterrado para não mais voltar.
Ando por aí sem rumo, fugindo de mim mesmo.
Fugindo daquilo que não posso ser.
Fugindo daquele frio pensamento.
Um gelado e sombrio ataque da madrugada.
Um golpe de mestre. Mais um é enterrado.
Como as facadas da madrugada no dia,
Alguém foi esfaqueado e ensangüentado.
O frio não é vazio. Os mortos acompanham as cenas.
O corvo morre de desgosto, por não mais ter penas,
Já usadas para o testamento,
Das tantas viúvas que assassinam seu casamento.
Os berros vibrantes das malignas mentes,
Que voam nas estrelas, na grama e no luar.
Que vagam por mentes vazias e as incendeiam,
De coisas, de sonhos, sem um final.
O frio. Eu acordo, não quero ficar,
Aqui tão imóvel vendo tantos sempre a chegar.
A sala de espera do juízo final está lotada.
Não posso ficar aqui parado, esperando alguém voltar.
Jesus você é um desalmado, me deixe viver e me movimentar.
Eu sou aquele velho túmulo.
Aquele velho rascunho do luar.
O peso da terra que me consome.
O peso do ar que não pode me levantar.
Lá vem a noiva com seu véu,
A densa escuridão e a neblina,
Um casamento do nobre cemitério vazio,
Jesus me liberte, tenho medo e frio.

By: AyKe.AeRa.

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