Como era bom, Minha Mãe

Como era bom ser criança, e viver daquela forma estranha,
Acordar de manhã e cair da cama,
Abrir a janela e saudar o dia.
Estava aqui batendo o pé e lembrando,
De um curso de dança tradicional que participava,
Onde até hoje a minha memória batuca o pé dançando,
Aqueles passos fortes que eu fazia no chão e gostava.
Quebrava a minha casa sem dar bola,
Para o que estava lá fora ou o que estava ali dentro,
E não me importava se naquela hora,
Eu sabia ou não sabia ou se não tinha talento.
Lembro-me de minha mãe dizendo: “Para de bater esse pé”,
E eu concentrado dizia: “Mas olha mãe, eu aprendi!”
Ela abria um sorriso e eu via que estava feliz.
E eu passava a ser a criança mais amada e realizada da Terra.
Como era bom ser criança e não pensar no tempo,
O tempo do dia acabava quando se estava escuro,
Às vezes quando acendiam as luzes do poste,
E outras vezes quando o vento era muito frio.
Como era bom ser criança e brincar do que se imaginava,
De sonhar em ser um médico, um ator ou um cantor.
Ser aquele bem sucedido empresário,
Com dinheiro de folhas de café, sem um excessivo labor.
E os troncos de mandioca que viravam armas da polícia,
Ou dos ladrões que se escondiam nos lotes vagos da rua.
Os galhos de uma velha ameixeira divididos,
E as partidas de “Bets”, que nem sei se existem hoje em dia.
Ser criança era aproveitar a companhia,
Nem que fosse para mostrar que você tinha alguma coisa,
Que você ganhou alguma coisa,
Que você era alguma coisa,
Que era uma fruta no jogo de alerta.
E os fortes de almofadas e cadeiras, cobertas de lençóis,
Os dias de chuva a sós, os melhores dias para inventar.
Aquele lanche preparado com amor,
Um copo de Nescau que hoje não tem o mesmo sabor,
Daquele da minha mãe, com um pão caseiro e chimia.
Isso dá saudades. Minha mãe me dá saudades.
E eu tão convencido de que aquilo tudo era eterno.
Um golpe duro na face. Caí com o rosto no concreto.
Ainda tenho em mim aquela criança:
Louca, inquieta, meio arrogante e metida,
Aquele menininho loiro meio antissocial.
E mãe, agora eu sei bem o que é a vida,
Ainda quero bater meus pés até o final.
Meu amor por você é eterno, assim como o meu tempo de criança.
Bater os pés me deixou mais forte, aprendi ser ritmado como a dança.
E entre tantas descobertas eu até mesmo me surpreendo,
Eu estou cada vez mais me conhecendo,
E acho que ainda vivo de uma forma bem estranha.

By: Vinicius André
Feito em 28 de julho de 2015.

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