Um Corpo Morto

Um espetáculo que é meu, pois sou dramático,
Jogado no chão de um modo performático,
E uma faca que abre as suas entranhas,
Com os meus hábitos e minhas culturas estranhas.
Um corpo morto, um cadáver exato.
Uma faca sobre a mesa e sangue sobre o sapato.
Um corpo morto que não é constatação e sim um fato.
Uma tarde de fascinação pelo irreal e o anonimato.
Eu procuro as partes que ainda sobraram,
E o perigo eminente de não saber quem eu sou.
E as palavras redefinidas que se acabaram,
Um pouco de mim e daquilo tudo que eu não lhe dou.
Sequei a última das gotas de todo este drama barato,
Hoje é o dia de ostentar a sua morte,
Um corpo morto que não é constatação é um fato,
Um dia perfeito para brincar com a sorte.
Eu não sou absolutamente o que você tanto enxerga,
Por que sou do contra, mas eu sei ser perdedor,
Com os pesos sociais a minha coluna se enverga,
E eu me sustento com o chão e com o vazio de meu horror.
Eu sou um corpo morto, e minha alma está subindo,
Um corpo frio e morto, aos poucos eu estou sorrindo,
E se não for felicidade é sofrimento disfarçado,
Um corpo morto em um chão que estive estirado.
E no fim, como em tantos, acaba a minha apresentação,
Um espetáculo sobre mortos que não possui mais uma razão.
Luz. Um pé direito. Cena 22.
Um corpo morto na sala e a última gota de dor.
“Corta! Quero ver a atuação agora e não depois”,
Meu último espetáculo desse show, eu sou um ator.

By: Corpo Morto
Feito em 17 de julho de 2015.

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