O Camaleão

Eu não posso ser apenas mais um garoto?
Tenho que ser as fases da lua,
As estações do ano,
As pedras coloridas e os amuletos enferrujados?
Eu não posso ser apenas mais um garoto?
Preciso ser esta máquina de mudança,
Um camaleão sem face,
Que transmuta entre os vários “eus” enjaulados?
Eu sou um camaleão em branco,
Eu sou uma pagina reciclada,
Não sou mal e não sou um santo,
Eu sou uma cor nova e renovada.
Isso tem haver com a minha alma,
E com a minha insaciável fome de mudança,
Mas eu nunca perdi a minha calma,
Para nutrir aquela minha linda criança,
A salvadora dos meus dias nublados,
E das perdas que são inevitáveis,
A detentora dos meus sorrisos forçados,
E das minhas dores quase intermináveis.
Não sou Bowie, uma Gaga ou a cultura pop,
Não sou elétrico como uma guitarra de rock,
Mas sou um camaleão contemporâneo usual,
Um pedaço do inferno de prazer quase carnal.
A concepção me garante bons e duradouros orgasmos,
Relações com outros planos espirituais.
Aprecio quando os rostos estão todos pasmos,
Quando eu exagero nos efeitos especiais.
Um punhado de conchas não salva um corpo debilitado,
E as velas queimadas não trazem mais salvação.
As cores nas quais eu fui pintado,
Transformaram-me nesta linda aberração,
Um camaleão tão colorido,
Um camaleão tão camaleão,
Isento-me da culpa de ter sofrido,
Por não dar ouvido ao meu coração.
Eu sou uma música que criei sobre fossas nasais,
Nadando entre sopas e entre naves espaciais,
Partindo com um foguete em direção a Superlua,
Correndo e criando muito cedo na minha rua.
E sou as músicas que eu ouço enquanto escrevo,
Sobre um camaleão muito maior isso eu não nego,
Se tiver que pagar eu pagarei por que não devo,
E se eu devo eu quero e não mais me apego.
Deixando este enigma eu sou um camaleão em mistério,
Um pedaço de todas as coisas que eu já realizei,
Eu sou o meu próprio entretenimento e não espero,
Como um dia parei para pensar e eu esperei,
Esperei as coisas caírem, como os aviões caem do céu,
Mas não era tão bom ser um camaleão cor de pastel,
Eu sou um colorido bonito e brilhoso,
Um camaleão amargurado, porém perigoso.
Eu não poderia ser apenas mais um garoto?
Eu acho que não. Não, eu não poderia!
E mesmo que eu seja declarado oficialmente louco,
Nada disso mais me importaria.
Se meus cabelos ficarem brancos,
Se meu coração parar de bater,
Se os meus olhos chorarem em prantos,
Quando a depressão me abater,
Eu sei que sou este camaleão de mil faces,
De mil e uma escolhas, não tão fáceis,
Mas ainda assim um garoto de uma canção natalina,
A chuva bem fina que vem com a neblina,
E todo este pequeno universo em que me insiro,
Melhor do que Cobain quando se deu um tiro.
No bom sentido é disso que estou falando,
Um pouco de entretenimento está me matando,
Matar-se virou a forma mais bonita,
De se fazer ouvir uma opinião maldita.
Não sou o Queen, o Nirvana ou o ABBA,
Por isso este texto por aqui acaba,
Por que não tenho um revólver para incrementar a festa,
E sou um pobre garoto de opinião modesta.
O camaleão é um câncer que consome minhas células boas,
Eu não posso ser apenas mais um garoto?
Eu acho que é tarde para pensar nas escolhas,
Ou eu faço pela arte ou eu sou um corpo morto.
Preciso de tantas pessoas e os amuletos enferrujados?
Preciso usar tantas correntes e tantos cadeados?
Eu não posso ser apenas mais um garoto?
Não! Eu não posso e nem quero mais ser,
Não sou a nova era, mas eu vi a coisa acontecer.
Um até breve. Por que estou me precavendo.
O camaleão está saindo e aos poucos estou me contorcendo,
Por que não consigo parar de escrever, o que está acontecendo?
A revolução interna está me preenchendo.
Chega. Isto é o fim deste ato.
Se tivesse uma arma me mataria de fato.
Desta forma eu valeria alguma coisa para o mundo,
Por que seria uma lembrança maior do que um segundo.
Não posso ser um homem normal,
Por que sou um homem camaleão.
Que você não me entenda mal,
Mas a arte comeu o meu coração.
Sim. Isto sim sou eu.
A escrita que não para e jorra pelos lados.
Acabei por agora por que isto tudo é meu,
E não quero que os seus olhos fiquem cansados.

By: Vinicius Osterer
Feito em 27 de setembro de 2015.

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