A Sociedade Alternativa de Um Maluco Beleza

Tem que acordar todo dia pela manhã,
Levar os filhos para o colégio, enfrentar outras pessoas no trânsito,
Quando se tem filhos e se tem um carro,
Quando não se tem que enfrentar um metrô ou um ônibus,
Com pessoas e mais pessoas que chegam a sair pelas janelas.
Quando não se pergunta: “Por que colocar filho no mundo?”
Se trabalha de um modo mecânico por horas a fio do dia,
Com uma parada também mecânica para o almoço,
Quando se tem o que comer, ou quando se tem para onde ir trabalhar.
E se consome tantas porcarias e mais porcaria,
Quando se tem dinheiro para consumir num sistema de consumo.
E vive com tanta porcaria,
Tem que engolir tanta porcaria,
Por que você precisa sobreviver e pagar as suas contas no fim do mês,
Ou conversar com alguém sobre os problemas da sua vida.
E vai todo domingo na igreja, quando se tem fé.
Quando se acredita em Deus, ou quando ainda existe esperança de salvação.
Ou não se vai na igreja, se vai ao culto ou ao terreiro,
Com a mesma convicção que resguarda a alma de algum mal.
Não percebe que o mal é você mesmo. Não percebe mais nada.
E quando percebe já não existe mais tempo para nada,
Tudo sempre é muito tarde. Tarde muito é sempre tudo.
Nada para tempo mais existe não.
A sociedade alternativa de um maluco sem noção?
Frente para trás de frases as ler para tempo tem não você.
Isso é arte para a sociedade que ninguém mais observa e nem vê.
Por que o homem que trabalha é invisível na multidão,
É mais um e isso nunca vai mudar a sua condição.
Nada para tempo mais existe não.
Eu sou um homem invisível e indivisível, sem um refrão.
A sociedade alternativa de um maluco sem noção?
A sociedade alternativa de um maluco beleza!
Por que o que eu faço tem um valor menor se eu trabalho?
Por que eu tenho um valor menor do que outra pessoa?
Eu não consigo compreender essa lógica do caralho!
Eu não consigo parar de pensar e ficar à toa!
Eu sou uma pessoa! Eu sou uma pessoa!
Um animal racional, que lê e sabe que pensa,
Um trabalhador que luta pela dignidade e pela decência,
Eu sou um homem, sou maluco, sou alternativo e sou Seixas,
Sou um brasileiro miserável de muitas mazelas e queixas...
Tenho que engolir as porcarias que colocam a comida na mesa,
Quando eu tenho mesa e tenho o que engolir.
Eu sou a vítima de uma pessoa que sempre sai ilesa,
Por que tem imunidade e pouca coisa para cumprir.
Não importa se você é velho, se é jovem ou se é criança,
Não importa nada, você não faz parte da sociedade.
Enquanto alguns comem e ficam coçando a sua pança,
Você trabalha de sol à sol sem o direito à sua cidade.
Por que colocar filho no mundo?
Por que trabalhar e trabalhar e não ter nada?
A sociedade alternativa de um maluco que não é mudo,
É a beleza do amanhã e de uma chegada.
A sociedade alternativa de um maluco sem noção?
A sociedade alternativa de um maluco beleza!
Nada para tempo mais existe não.
Eu sou um homem invisível e indivisível, sou a pobreza.

By: Vinicius Osterer
Feito em 06 de Julho de 2016.

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