Almoço da Existência

Não é por uma questão de ser consciente ou igual,
Nem mesmo pela percepção de que você é um complemento,
Mas pelo valor próprio, pela luta própria,
Por querer que lhe procurem e não o contrário.
Não posso usar a mesma arma e golpear meu amigo,
Golpear alguém da minha família e circulo de convívio.
Nós bebemos a mesma bebida e provamos do mesmo alimento,
Só eu que penso desta forma e não ao contrário no momento?
Onde se esconde o Sol sobre minha cabeça?
Onde brilha a minha patética estrela universal?
Cansada de lutar pela minha matéria insaciável?
Um buraco negro de informações que não valem nada.
Eu não posso fazer refeições com as mãos cheias de sujeiras,
De desvios de caráter, de mudanças de personalidade.
Eu preciso prender os meus cabelos compridos,
Para os meus olhos chorarem enquanto corto mais cebola.
E eu vos alimento todo dia, realizo seus sonhos e não os meus.
Sou a sua vagabunda, a sua meretriz que lhe satisfaz de graça.
Sou aquele em que você pode confidenciar sua vida,
E esparramar todas as minhas confidências para ter assunto.
Sou o seu doce que lhe tira da realidade,
E a sua bebida que lhe encharca madrugada adentro.
Posso falar sobre as coisas que você gosta,
E ouvir tudo aquilo que não gosto de boca fechada.
Mas isso tudo é propício ao meu próprio valor pessoal?
Onde é que eu me escondo dentro deste corpo vazio?
Eu recolho a sua roupa enquanto a minha está lá fora no varal,
No meio da chuva torrencial que inunda a minha cidade.
Eu lhe preparo um bolo quando sei que não posso comer,
Por que estou colocando tudo para fora no vaso do banheiro.
E você me troca pela oportunidade segunda,
Pelo convívio extra e social, isso não deve ser normal!
Onde está a minha vontade maior de ser?
Não preciso da rotina, do almoço que faço todos os dias,
Sem ouvir um obrigado, só ouvir uma obrigação.
Por que eu devo prostituir as minhas vontades,
E me tornar omisso, me importar cada vez menos comigo, o poeta?
Eu quero parar de dar. Quero passar a receber.
Quero parar de me oferecer. Quero passar a me resguardar.
Não quero coisas de segunda mão, nem sentimentos moderados,
Quero o amor por completo, eu quero todos os lados.
Eu não preciso preparar cozidos e cortar temperos,
Para fazer uma sopa mental de consciência.
Preciso de pessoas completas e não aos meios,
Que deem valor para a minha existência.
Não quero mais ser conscientemente o amigo complementar,
Mais uma pessoa para se chamar de familiar,
Eu quero existir dentro da minha própria vida.

By: Vinicius Viniver
Feito em 20 de julho de 2016.

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