Fome

Quando se tem fome, quando se quer comer
Do que vale o dinheiro, do que vale o poder?
Um bloco de concreto que parece um chocolate,
Chocolate com morango, com duas camadas.
Qual é a cara da fome?
Tem cara de civilização? Redonda como uma bola?
Com pedregulhos, enlameada, como uma poça de água?
Parece um filho de parto mal feito? Parece miséria?
Parece um litro vazio?
Um grito na noite?
Uma sombra negra que me causa arrepio?
Pastel de vento, vulcão supersônico?
Água benta, remédio para amarelão, tônico?
Tem cara de cultura? Esconde um mistério?
Está na Barra Funda? No Capão Redondo?
Na imemorial memória do que é latino?
No cinza concreto que se ergue como inço?
Ela tem algum critério?
Ahhhhh.... Minha barriga redonda grita
Em giros atmosféricos, tempestades de vontades
Dos sabores que nunca vou poder provar!
Tanto falei em amor, mas quem vai alimentar
A boca dos que passam fome no mundo?
Eu sou a fome? Eu sou humano.
E talvez essa seja a minha cara...
Fome. Não me ignore!
Eu existo.
Assim como esse bloco de concreto sobre meus pés,
Que parece chocolate com morango, com duas camadas.

By: Vicenzo Vitchella
Feito em 06 de Maio de 2017.

Comentários

Postagens mais visitadas