Nebulosa Camomila

Deus estava sobre meus olhos,
Na beira do copo sobre a bancada do bar,
Olhando clandestino o vazio de fora e de dentro,
Em um cambalacho tortuoso e lento,
Nebulosa no Supremo Tribunal, expiando os pecados.

Era uma dama escura como a noite,
Bebendo em um copo raso vinho e orvalho,
Descendo ao chão como um otário,
Subindo sobre um cavalo sem assas.
Paris em chamas, meu peito em brasas,
Queria uma xícara de chá de maracujá.

Eram óculos de girassóis,
Com rodelas de limão quando tomei.
Óculos gigantes e caleidoscópicos,
Como o olhar de Deus para mim tão microscópico,
Enquanto limpo as minhas lágrimas douradas de camomila.
Chapado, embriagado, dilatado como minha pupila.
Nebulosa no céu, pego o ônibus espacial para o meu centro agora.

Olhos amendoados que não diziam ser inteiros,
Nebulosa Camomila sobre os meus travesseiros,
Perdi três corações em um só dia.
Sou vagabunda, sou desgraçada, uma vadia,
Bebendo chá enquanto o sono não vem.
Esperando que não me julguem sem provas,
Eram palavras saborosas, tão novas,
Não são nada, não pavimentam meu chão.
Mais uma xícara de amargor e decepção,
Depois disso a sobriedade é rebeldia.

Deus estava sobre minhas mãos,
Socando meu próprio estômago de punho fechado,
Sem amor pela existência, me sentindo culpado,
Porque é isso que dizem sobre mim na televisão.
Honestidade? Nem na minha versão,
Que tentava escrever um castelo de tijolos e não de cartas,
Meu império de utopismos cheio de erratas,
Sobre o erro que cometi ao lhe descrever.
O que estava fazendo? O que eu deveria saber?

Eles se beijaram apenas embriagados,
Embaixo de cobertas, com os olhos fechados.
Com uma língua de navalha,
No corpo a marca de um ferro.
No peito um daqueles segredos,
Que eu deixo em mistério,
Pois na beira do copo eu sou criança,
Que brinca de se equilibrar para não cair.
Se pôr tudo para fora eu sei que vou sorrir,
Mas vou vomitar algo que não é abstrato,
Olhando fixo para meu pé sem sapato,
O dedão esquerdo está roxo e gelado.

Eu não reflito, sou vampiro
Mas este é o meu reflexo.
Tende piedade, do desespero de Vinicius,
Os versos veem, sem acento circunflexo.
Nebulosa Camomila.
Encha um copo, por favor.
Preciso esquecer da menino menina,
Que foi embora com o meu amor.

By: Vinicius Osterer
Feito em 09 e 11 de Abril de 2018.

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