Equinócio de Setembro VII

Você aceita publicar o que você escreve?
Em uma grande editora de repercussão nacional?
Se expor para ver se com o que você ganha,
Você pode deixar de ser um homem sem sal?
Vai que você consiga se vender de corpo e alma,
E publicar um pouco a mais de você na história...
Vai que isso faça você perder os seus pudores,
E você fique guardado em alguma memória...
Não é difícil fracassar, é complicado admitir o fracasso,
Vivenciar cada dia como se nada fosse dar certo.
Mas aprendi a viver e amar tudo o que eu faço,
Acho que desta forma estarei cada dia mais perto.
Nada é assim tão fácil, meu caminho não é ruim,
Mas fico admirado e amando o meu torto correto,
A maneira que eu vivo nesta grande decepção artística,
Eu sou mais do que uma experiência mística,
E muito mais do que os olhos verdes e o cabelo raspado.
Sou a minha vida publicada, sou a voz mais baixa que não sai.
Sou o filho de uma cultura que não possui coração,
Que defeca pelos dedos a sua falta de consideração,
E isso dói. Como isso é estranho.
Tão calados e tão distantes do centro de seus sonhos.
Eu quero escrever, eu quero ser este equinócio,
O arquiteto escritor, quero viver deste meu ócio.
Eu sou as páginas em branco, as páginas escritas,
Sou as linhas encurraladas e os versos catedráticos,
Um punhado de informação e gestos performáticos.
Mas sou a naturalidade, sou a cabeça cheia de letras,
De todos os autores e de todos os poetas,
Sou um pouco de Vinicius, sou os Andrades,
Sou o Gullar e sou Gonçalves Dias das saudades.
Eu sou aquele que ama fracassar. Por que eu sei amar,
E na vida é isso que me resta,
Escrever em mim é o que presta.
De resto nada é tão bom assim.
E toda aquela luz que pisca é real?
Tanta gente que conheço pela rede social,
Mas não é física. Não é matéria. Não é palavra brava,
Não vem como uma tempestade virando o tempo,
Será que eu tenho algum talento?
Será que eu tenho alguma valia?
Viver dentro da escuridão, fugindo da luz do dia?
Onde é que eu vim parar?
Isso é poema ou uma gramática descartada?
Desculpe poetas anteriores. Acho que fracassei...
Mas bem no fundo eu escrevi tudo aquilo que amei,
Por que a verdade é o amor vivenciado,
Aquele pavor que vem e senta do seu lado,
Mesmo tendo um punhado de lugares vazios.
Eu quero viver este equinócio,
Escrever não é só um negócio,
E isso dói. Como isso é estranho.
Um punhado de dinheiro que só pensa em mais ganho.
Não faço odes, sonetos, poesias para ninguém por defeitos.
Por que eu sou um defeito. Sou uma caligrafia errada,
Uma letra toda torta de uma partitura deformada.
Mas continuo com Lispector, com Coelho, com Alencar,
Com Assis, com Wilde e com a maneira de sonhar,
Por que eu sou um pouco do Cony, e sou a minha biblioteca,
A literatura brasileira é a minha grande Meca.
Eu sou aquele que ama fracassar,
Mas, escrever em mim é o que presta.
É só o que me resta,
Será que eu tenho algum talento?

By: Vinicius Osterer
Feito em 21 de setembro de 2016.

Comentários

  1. e agora tenho em minha mente uma imagem do Vinicius a partir desses teus versos. e gostei.
    além do mais, saiba que gosto muito da sua escrita, moço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado!!! Sou bom com textos, mas não com respostas... Então agradeço msm... E muito obrigado por colocar um pouco de prosa na minha poesia... espero não lhe decepcionar.. :D

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas